quinta-feira, 12 de novembro de 2009


"A vida é um espelho. Você não pode esquecer que o que você faz contra alguém vai refletir em você que está do outro lado..."
Pai Joaquim da Bahia (Carlos Alberto) respondendo a uma consulente que havia ido em um outro terreiro fazer trabalho contra o ex-marido e estava agora reclamando que a vida dela é que estava dando pra trás enquanto a do marido estava ótima.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

AS ORIGENS DA UMBANDA (3): RITUAIS INDIGENAS SEM PARÂMETROS NO VELHO MUNDO


Ao se depararem com os índios brasileiros, os padres jesuítas e reformadores calvinistas ficaram espantados com o que esperava por eles nestas terras. Ao contrário dos indígenas antes encontrados pelos colonizadores das Américas, os nossos índios tinham uma concepção religiosa e mística que espantou aos estudiosos da época, mas que hoje nos soaria extremamente familiar. São inúmeros os relatos onde a estrutura moral e concepção religiosa do indígena brasileiro, antes de ingênua ou selvagem como imaginavam os europeus, era na verdade de grande maturação espiritual se vista como o entendimento atual.

Em seu livro “Chronica da Companhia de Jesus”, padre Simão de Vasconcelos relata: “Os índios do Brasil, de tempos imemoriais a esta parte, não adoram expressamente Deus algum: Nem tem templo, nem sacerdote, nem sacrifício, nem fé, nem lei alguma”. Para continuar mais adiante: “Disse do Brasil, porque dos Índios de quase todas as outras partes da América, do Peru, do México, Nova Espanha etc, sabemos o contrário, e que acharam aqueles primeiros seus descobridores grandes indícios, e ruínas de templos famosos, de variedades de ídolos, cerimônias e cultos”. Mesmo espantado com a falta de “adoração” por parte dos índios brasileiros, Simão de Vasconcelos não deixa de notar que “claramente por comum não reconhecem deidade alguma, tem contudo uns confusos vestígios de uma Excelência superior, (...) os mesmos vestígios há entre eles da imortalidade da alma e da outra vida;”

Na verdade, o que ele não entendia, é que desde aquela época, nossos índios tinham o costume de se comunicar com seus antepassados, através do transe mediúnico induzido através do tabaco e bebidas fermentadas. O que para ele era um sinal de selvageria e uma festa pagã, para os nossos índios era uma cerimônia com direito a passes, rezas e aconselhamentos. Observem como o mesmo Padre Simão relata o que viu os índios brasileiros fazerem, depois de usarem o tabaco e o vinho: “depois de assim animados, fazem visagens e cerimônias, como se foram endemoninhados, dizem aos outros o que lhes vem à boca, ou o que lhes ministra o diabo; e tudo o que dizem enquanto dura aquele desatino crêem firmemente, qual se fora entre nós a revelação de algum Profeta. (...)A uns ameaçam más venturas e a outros boas, (...)como dito de alguma Deidade”. Padre Simão de Vasconcellos relata ainda neste mesmo livro e em outro em que narra a vida do também padre João de Almeida, diversos casos onde a tradição indígena demonstra resultados espantosos, claro que sempre interpretados pelos europeus como “notáveis espécies de feitiçarias”.

Sem parâmetros de comparação com a “civilização” européia, o índio brasileiro vivia, antes da chegada do homem branco, em perfeita comunhão com a natureza, seus ancestrais e sua religiosidade. Se causou espanto aos pretensos colonizadores o modo como agiam, os selvagens que não tinham “nem fé, nem rei e nem lei” conforme escreveu em 1584, Gabriel Soares de Souza, viviam a seu modo simples em média até os 120 a 140 anos. Sua sabedoria e simplicidade, ficam claras nas palavras que o missionário francês Jean de Léry coloca na boca de um velho caraíba, no livro “Viagem à Terra do Brasil” de 1578: "(…)há muito tempo, já não sei mais quantas luas, um mair como vós, e como vós vestido e barbado, veio a este país e com as mesmas palavras procurou persuadir-nos a obedecer a vosso Deus; porém, conforme ouvimos de nossos antepassados, nelle não acreditaram. Depois dêsse veio outro e em sinal de maldição doou-nos o tacape com o qual nos matamos uns aos outros
”.


A SEGUIR: AS ORIGENS DA UMBANDA (4): JESUÍTAS X CARAÍBAS, SINCRETISMO NO NOVO MUNDO

Para quem quer saber mais:
Viagem a terra do Brasil – Jean de Léry – 1578
Tratado Descritivo do Brasil - Gabriel Soares de Souza - 1584
Crônica da Companhia de Jesus - Padre Simão de Vasconcellos – 1663
Profetas e Santidades Selvagens – Cristina Pompa - 2001