
“Os homens não vivem somente uma vez, partindo em seguida para sempre. Eles vivem numerosas vezes e em numerosos lugares, embora não seja sempre neste mundo. Entre duas vidas, há um véu de obscuridade. A porta abrir-se-á no fim e nos mostrará todas as câmaras que nossos passos atravessaram desde o começo.”
Do Papiro de Anana, Vizir e Escriba do Faraó Sethi II (1320 a.c.)
Nos dias de hoje, ainda é difícil determinar o momento histórico exato em que a crença na reencarnação surgiu. Embora alguns estudiosos queiram fazer crer que ela já fazia parte de uma ciência desenvolvida na Atlântida, milhares de anos antes das pirâmides serem planejadas, é no Egito antigo que nove entre dez pesquisadores do ocultismo e espiritismo em geral encontram os relatos mais antigos a esse respeito. Em 3.000 a.C. os egípcios já diziam que, antes de ter nascido, a criança já havia vivido antes, uma vez que a morte não significa o fim. Na antiga Mesopotâmia, berço da civilização 6.000 anos a.C., a reencarnação embora não fosse um conceito explícito, era também, sem dúvida nenhuma um princípio fundamental nos mitos e lendas sumérias.
Os mesopotâmicos acreditavam no “Eterno Retorno”, um conceito que talvez não possa ser exatamente o que hoje entendemos como reencarnação, mas que se aproxima dele. Em primeiro lugar, as “Descidas à Mansão dos Mortos” são um tema constante na cultura Mesopotâmica, e todas, sem exceção, tratam do triunfo do espírito sobre o desejo, atos errados ou culpa, assim como a ascensão às “Grandes Alturas”, outro mito recorrente nas lendas sumérias. Em “As Cartas Fenícias”, temos um relato real de um mestre ao seu discípulo iniciado nas Tradições, um príncipe-sacerdote, por um período de dois anos. Nelas, a visão da Tradição Mesopotâmica se assemelha, em muito, com a própria visão Umbandista da reencarnação, embora de forma bastante metafórica. Vamos ver o que o Mestre explica para seu discípulo sobre reencarnação: “Sabei, oh Príncipe que a morte é a fonte da vida, a vida a causa da morte". E sobre o que acontece quando se morre: “Ele então irá lutar na Mansão dos Mortos as batalhes que ele não venceu, pois diz-se que quando morre um indivíduo, tudo o que esta pessoa fez ser-lhe-á apresentado, para ver se ele/ela se arrependem ou não de suas ações. Se ele lamentar e sofrer pelas ações que não pôde realizar ou nas quais falhou em executar, então este é um peso que ele deve carregar na sua próxima [vida]. Aqui está um relato de justiça: os assessores do inferno farão descer sobre cada homem seus crimes, seus amores e ódios, sendo que tal indivíduo será atraído pelos mesmos eventos, sem parar, até que as ações de sua vida não mais estejam manchadas".
Não seria parecido com isso o período logo após o desencarne, segundo aprendemos com nossas entidades? Onde cada um de nós se veria diante da própria consciência, palmilhando nossos próprios atos e pensamentos na encarnação anterior e ainda mais além? E o mestre mesopotâmico ensina mais: “Esta pessoa deverá encontrar os demônios que ela mesma criou, deve lutar as batalhas que ocorreram dentro de si mesma a cada dia. Isto é justiça: entre cada respiração, ele deverá ver o julgamento que será passado por sobre ele. Apenas coragem e perseverança na verdade e na visão interior são as armas desta pessoa lá".
Já os egípcios, acreditavam numa vida além-túmulo de forma mais explícita e organizada. Falavam sobre o mundo chamado Amenti, no qual os mortos deveriam exercer funções e levar uma existência bastante parecida com a que tinham em vida. A tradição afirmava que, às vezes, a alma regressava ao seu túmulo, ao seu corpo mumificado, e o Ka era o veículo por meio da qual a alma, Ba, regressava ao corpo. Hoje em dia, o Ka é definido como uma espécie de “duplo” do corpo humano, identificado por alguns espíritas como “corpo astral”. Existem também relatos de reencarnação em outros corpos ou até mesmo em animais. O próprio Osíris, um deus egípcio que depois de ter sido morto e esquartejado por seu irmão Seth, teria subido aos céus e depois reencarnado. Segundo o famoso “Livro dos Mortos” da tradição egípcia, seria Osíris o juiz que decidiria, em seu tribunal, se o recém-morto deveria sofrer ou não em sua próxima vida, de acordo com seus atos na vida anterior. Vale lembrar que a crença egípcia na reencarnação nunca foi popular, sendo em grande parte restrita apenas a sacerdotes iniciados nos ensinamentos esotéricos. O “Papiro de Anana”, descoberta arqueológica que teria sido escrita por volta de 1.320 a.C. e cuja citação inicia este artigo, é mais um indício que os antigos egípcios acreditavam fortemente na reencarnação e na imortalidade da alma.
A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (3): CHINA, JAPÃO E O EXTREMO ORIENTE.