quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (2): EGITO E ORIENTE MÉDIO


“Os homens não vivem somente uma vez, partindo em seguida para sempre. Eles vivem numerosas vezes e em numerosos lugares, embora não seja sempre neste mundo. Entre duas vidas, há um véu de obscuridade. A porta abrir-se-á no fim e nos mostrará todas as câmaras que nossos passos atravessaram desde o começo.”
Do Papiro de Anana, Vizir e Escriba do Faraó Sethi II (1320 a.c.)


Nos dias de hoje, ainda é difícil determinar o momento histórico exato em que a crença na reencarnação surgiu. Embora alguns estudiosos queiram fazer crer que ela já fazia parte de uma ciência desenvolvida na Atlântida, milhares de anos antes das pirâmides serem planejadas, é no Egito antigo que nove entre dez pesquisadores do ocultismo e espiritismo em geral encontram os relatos mais antigos a esse respeito. Em 3.000 a.C. os egípcios já diziam que, antes de ter nascido, a criança já havia vivido antes, uma vez que a morte não significa o fim. Na antiga Mesopotâmia, berço da civilização 6.000 anos a.C., a reencarnação embora não fosse um conceito explícito, era também, sem dúvida nenhuma um princípio fundamental nos mitos e lendas sumérias.

Os mesopotâmicos acreditavam no “Eterno Retorno”, um conceito que talvez não possa ser exatamente o que hoje entendemos como reencarnação, mas que se aproxima dele. Em primeiro lugar, as “Descidas à Mansão dos Mortos” são um tema constante na cultura Mesopotâmica, e todas, sem exceção, tratam do triunfo do espírito sobre o desejo, atos errados ou culpa, assim como a ascensão às “Grandes Alturas”, outro mito recorrente nas lendas sumérias. Em “As Cartas Fenícias”, temos um relato real de um mestre ao seu discípulo iniciado nas Tradições, um príncipe-sacerdote, por um período de dois anos. Nelas, a visão da Tradição Mesopotâmica se assemelha, em muito, com a própria visão Umbandista da reencarnação, embora de forma bastante metafórica. Vamos ver o que o Mestre explica para seu discípulo sobre reencarnação: “Sabei, oh Príncipe que a morte é a fonte da vida, a vida a causa da morte". E sobre o que acontece quando se morre: “Ele então irá lutar na Mansão dos Mortos as batalhes que ele não venceu, pois diz-se que quando morre um indivíduo, tudo o que esta pessoa fez ser-lhe-á apresentado, para ver se ele/ela se arrependem ou não de suas ações. Se ele lamentar e sofrer pelas ações que não pôde realizar ou nas quais falhou em executar, então este é um peso que ele deve carregar na sua próxima [vida]. Aqui está um relato de justiça: os assessores do inferno farão descer sobre cada homem seus crimes, seus amores e ódios, sendo que tal indivíduo será atraído pelos mesmos eventos, sem parar, até que as ações de sua vida não mais estejam manchadas".
Não seria parecido com isso o período logo após o desencarne, segundo aprendemos com nossas entidades? Onde cada um de nós se veria diante da própria consciência, palmilhando nossos próprios atos e pensamentos na encarnação anterior e ainda mais além? E o mestre mesopotâmico ensina mais: “Esta pessoa deverá encontrar os demônios que ela mesma criou, deve lutar as batalhas que ocorreram dentro de si mesma a cada dia. Isto é justiça: entre cada respiração, ele deverá ver o julgamento que será passado por sobre ele. Apenas coragem e perseverança na verdade e na visão interior são as armas desta pessoa lá".

Já os egípcios, acreditavam numa vida além-túmulo de forma mais explícita e organizada. Falavam sobre o mundo chamado Amenti, no qual os mortos deveriam exercer funções e levar uma existência bastante parecida com a que tinham em vida. A tradição afirmava que, às vezes, a alma regressava ao seu túmulo, ao seu corpo mumificado, e o Ka era o veículo por meio da qual a alma, Ba, regressava ao corpo. Hoje em dia, o Ka é definido como uma espécie de “duplo” do corpo humano, identificado por alguns espíritas como “corpo astral”. Existem também relatos de reencarnação em outros corpos ou até mesmo em animais. O próprio Osíris, um deus egípcio que depois de ter sido morto e esquartejado por seu irmão Seth, teria subido aos céus e depois reencarnado. Segundo o famoso “Livro dos Mortos” da tradição egípcia, seria Osíris o juiz que decidiria, em seu tribunal, se o recém-morto deveria sofrer ou não em sua próxima vida, de acordo com seus atos na vida anterior. Vale lembrar que a crença egípcia na reencarnação nunca foi popular, sendo em grande parte restrita apenas a sacerdotes iniciados nos ensinamentos esotéricos. O “Papiro de Anana”, descoberta arqueológica que teria sido escrita por volta de 1.320 a.C. e cuja citação inicia este artigo, é mais um indício que os antigos egípcios acreditavam fortemente na reencarnação e na imortalidade da alma.

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (3): CHINA, JAPÃO E O EXTREMO ORIENTE.

3 comentários:

Unknown disse...

Tá ficando bom hein!

Realmente o Egito (Antigo) se destaca quanto à sua concepção e mesmo aceitação da reencarnação.
Os antigos egípcios acreditavam que a existência terrena era uma espécie de escola onde suas almas eram lapidadas para sua vida em "Amenti".
Após ter o devido merecimento da vida eterna, recebe de Osíris, a autorização para que Anubis ou Anupu, o libere para cruzar o "Nilo das ALmas" em sua própria barca fúnebre e atravessar o "Duad", uma mistura de céu/ paraíso, onde os Deuses habitavam. Após vislumbrar o Paraíso, esta alma o deixava para seguir finalmente para Amenti.
Em verdade, apenas os faraós, rainhas, nobres reais, sacerdotes e medijas (mediáas), guardas reais do faraó, teriam o privilégio de vislumbrar o Duad. Os demais membros do povo, caso merecido, teriam sua passagem direto para Amenti, onde retomariam seus ofícios, mas desta vez, sem as dores físicas da vida terrena. Da mesma forma o secto dito real, que reinaria Amenti em sua determinada época.

Isso pode ser dito em relação ao culto politeísta do Egito, regido pelos sacerdotes de Amon-Rá.
Mas o Egito passou por um momento, relativamente curto de Monoteísmo, sob a regência de Amenophis IV, mas conhecido por Akhenatom, marido de Nefertiti e pai de Tutancatom (mais tarde Tutancamom).

Amenophis IV, levou o Egito, com forte oposição secreta dos sacerdotes de Amom-Rá, ao monoteísmo por imposição. Era o mais devoto servo de ATOM, o disco solar, deus único do mundo. Os seguidores de ATOM, também viveriam inúmeras vidas terrenas, até que pudessem permanecer no Duad, junto a ATOM.

Com a misteriosa morte de Amenophis IV, assassinado ou não, o monoteísmo caiu no Egitio Antigo e os Deuses Egípcios retornaram, até a conversão para o Islamismo.
De qualquer forma, história a parte, notamos a mesma influência espiritualista...

Marcelo disse...

Viu só??? acabamos ganhando uma "aula" do professor Renan!!! Obrigado irmão, por ter dado essa explicação mais detalhada da religião no Egito e volto a convidá-lo para escrever aqui... o espaço é nosso!!!

Unknown disse...

Eu é que devo agradecer o convite!

Afinal, como podemos falar tão somente com profundidade de nossa religião se nos faltar objetos de referência ou mesmo de diferenciação das demais religiões fundamentadas ou de crenças ainda não seculares?

Lógico, mantendo a imparcialidade e o respeito sempre!

Pelo jeito, passaremos um bom tempo por aqui, lendo os textos do blog e principalmente os comentários de todos os participantes.