quinta-feira, 12 de novembro de 2009


"A vida é um espelho. Você não pode esquecer que o que você faz contra alguém vai refletir em você que está do outro lado..."
Pai Joaquim da Bahia (Carlos Alberto) respondendo a uma consulente que havia ido em um outro terreiro fazer trabalho contra o ex-marido e estava agora reclamando que a vida dela é que estava dando pra trás enquanto a do marido estava ótima.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

AS ORIGENS DA UMBANDA (3): RITUAIS INDIGENAS SEM PARÂMETROS NO VELHO MUNDO


Ao se depararem com os índios brasileiros, os padres jesuítas e reformadores calvinistas ficaram espantados com o que esperava por eles nestas terras. Ao contrário dos indígenas antes encontrados pelos colonizadores das Américas, os nossos índios tinham uma concepção religiosa e mística que espantou aos estudiosos da época, mas que hoje nos soaria extremamente familiar. São inúmeros os relatos onde a estrutura moral e concepção religiosa do indígena brasileiro, antes de ingênua ou selvagem como imaginavam os europeus, era na verdade de grande maturação espiritual se vista como o entendimento atual.

Em seu livro “Chronica da Companhia de Jesus”, padre Simão de Vasconcelos relata: “Os índios do Brasil, de tempos imemoriais a esta parte, não adoram expressamente Deus algum: Nem tem templo, nem sacerdote, nem sacrifício, nem fé, nem lei alguma”. Para continuar mais adiante: “Disse do Brasil, porque dos Índios de quase todas as outras partes da América, do Peru, do México, Nova Espanha etc, sabemos o contrário, e que acharam aqueles primeiros seus descobridores grandes indícios, e ruínas de templos famosos, de variedades de ídolos, cerimônias e cultos”. Mesmo espantado com a falta de “adoração” por parte dos índios brasileiros, Simão de Vasconcelos não deixa de notar que “claramente por comum não reconhecem deidade alguma, tem contudo uns confusos vestígios de uma Excelência superior, (...) os mesmos vestígios há entre eles da imortalidade da alma e da outra vida;”

Na verdade, o que ele não entendia, é que desde aquela época, nossos índios tinham o costume de se comunicar com seus antepassados, através do transe mediúnico induzido através do tabaco e bebidas fermentadas. O que para ele era um sinal de selvageria e uma festa pagã, para os nossos índios era uma cerimônia com direito a passes, rezas e aconselhamentos. Observem como o mesmo Padre Simão relata o que viu os índios brasileiros fazerem, depois de usarem o tabaco e o vinho: “depois de assim animados, fazem visagens e cerimônias, como se foram endemoninhados, dizem aos outros o que lhes vem à boca, ou o que lhes ministra o diabo; e tudo o que dizem enquanto dura aquele desatino crêem firmemente, qual se fora entre nós a revelação de algum Profeta. (...)A uns ameaçam más venturas e a outros boas, (...)como dito de alguma Deidade”. Padre Simão de Vasconcellos relata ainda neste mesmo livro e em outro em que narra a vida do também padre João de Almeida, diversos casos onde a tradição indígena demonstra resultados espantosos, claro que sempre interpretados pelos europeus como “notáveis espécies de feitiçarias”.

Sem parâmetros de comparação com a “civilização” européia, o índio brasileiro vivia, antes da chegada do homem branco, em perfeita comunhão com a natureza, seus ancestrais e sua religiosidade. Se causou espanto aos pretensos colonizadores o modo como agiam, os selvagens que não tinham “nem fé, nem rei e nem lei” conforme escreveu em 1584, Gabriel Soares de Souza, viviam a seu modo simples em média até os 120 a 140 anos. Sua sabedoria e simplicidade, ficam claras nas palavras que o missionário francês Jean de Léry coloca na boca de um velho caraíba, no livro “Viagem à Terra do Brasil” de 1578: "(…)há muito tempo, já não sei mais quantas luas, um mair como vós, e como vós vestido e barbado, veio a este país e com as mesmas palavras procurou persuadir-nos a obedecer a vosso Deus; porém, conforme ouvimos de nossos antepassados, nelle não acreditaram. Depois dêsse veio outro e em sinal de maldição doou-nos o tacape com o qual nos matamos uns aos outros
”.


A SEGUIR: AS ORIGENS DA UMBANDA (4): JESUÍTAS X CARAÍBAS, SINCRETISMO NO NOVO MUNDO

Para quem quer saber mais:
Viagem a terra do Brasil – Jean de Léry – 1578
Tratado Descritivo do Brasil - Gabriel Soares de Souza - 1584
Crônica da Companhia de Jesus - Padre Simão de Vasconcellos – 1663
Profetas e Santidades Selvagens – Cristina Pompa - 2001

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

AS ORIGENS DA UMBANDA (2): NO INÍCIO DE TUDO


No início de tudo, entre 4,5 e 5 bilhões de anos atrás, a Terra apresentava sobre a sua superfície um material derretido muito quente, formado em grande parte por ferro, níquel e outros metais pesados, que com o decorrer do tempo foram se concentrando em seu núcleo. Há cerca de 3,9 bilhões de anos, o resfriamento permitiu a solidificação das rochas, dando origem a uma camada sólida externa sobre a superfície terrestre, que é a crosta. A ciência moderna acredita hoje que há 200 milhões de anos existia um único megacontinente: Pangéia, que em grego quer dizer “Toda a Terra”. Com o passar do tempo, ele se fragmentou em dois supercontinentes chamados Laurásia (América do Norte e Eurásia) e Gondwana (América do Sul, África, Índia, Austrália e Antártida) e, há 84 milhões de anos, houve a separação entre a América do Norte e Eurásia e entre a América do Sul, África, Oceania e Índia, que se tornou uma ilha no oceano Índico. As evidências que comprovam essa teoria vão desde o “encaixe” quase perfeito entre América do Sul e África, análises rochosas comuns a esses continentes e até fósseis de animais similares encontrados nos continentes separados pelos oceanos.

Essa teoria, globalmente aceita pela ciência atual, é descrita no
Popol Vuh, o livro sagrado da civilização Maia, considerado a “Bíblia das Américas”, onde é dito que: -"O aspecto da Terra ainda não havia sido revelado, havia apenas o Mar Doce e o espaço aberto do Céu. Assim falaram as Divindades: –"Retirai-vos Águas e dai lugar para que a Terra aflore e se consolide". "TERRA", disseram, e no mesmo instante esta foi criada". A civilização Maia povoou a mesoamérica, região onde hoje se localizam os territórios da Guatemala, Belize, Honduras, El Salvador e Costa Rica. Diz também o Popol Vuh: "De barro, fizeram a carne dos Homens"–, significando, talvez, que a Primeira Raça Humana era de cor vermelha acobreada, da cor do barro com que foi criada, símbolo da interação da Terra e da Água, vivificada pelo Fogo do Espírito insuflado pelo Ar do Hálito Divino, muito bem explicada, como veremos posteriormente na cosmogonia e teogonia Umbandista.

Com o passar dos milênios, a raça humana multiplicou-se e foi ocupando as terras firmes do imenso continente único ainda existente, vivendo em perfeita comunhão ecológica com seu meio ambiente, sobrevivendo aos imensos cataclismas naturais que se processaram a partir dos rompimentos deste continente único, quando os diversos fragmentos continentais subseqüentes começaram a se afastar uns dos outros, para se tornar o que hoje conhecemos. Estas tradições estão expressas nos livros sagrados de várias raças como o
Papiro dos Mortos, os Vedas, a Epopéia de Gilgamesh, a Torah, os Eddas, a Bíblia e em cada cultura é reportada de uma diferente forma. Ao iniciarem a exploração das terras brasileiras, por volta do ano 1.500 d.C., os europeus também conheceram as lendas de nossos povos indígenas, os quais seriam modernamente conhecidos como Tupi-Guarani e que com toda certeza também sobreviveram aos gigantescos cataclismos relatando de seu jeito sua luta pela sobrevivência. Entre elas, contada pelo Padre Simão de Vasconcellos a que batizava de Pindorama nosso país, dava conta de que um antigo pajé de nome Tamandaré (ou “Aquele que fundou a raça”), ao comunicar-se com o espírito de seu antepassado (Nhanderú Avô mais antigo), foi-lhe revelado que uma grande chuva inundaria toda a terra e ele só poderia salvar-se se ficasse com sua família em cima de uma determinada palmeira que ficava em um certo cume. Seguindo estas instruções, Tamandaré salvou a si e sua família, repovoando assim toda a terra. Vale lembrar que esta lenda encontra claramente ecos no dilúvio Bíblico de Noé e na lenda dos índios venezuelanos Tamanacos reportada pelo célebre missionário Padre Gilli...

A SEGUIR: AS ORIGENS DA UMBANDA (3): RITUAIS INDÍGENAS SEM PARÂMETROS NO VELHO MUNDO

Para quem quer saber mais:
A Evolução da Vida na Terra - Ingrid B. Bellinghausen
Os Gêmeos do Popol Vuh – Jorge Luján
Chronica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil – Padre Simão de Vasconcellos

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

AS ORIGENS DA UMBANDA (INÍCIO)


Embora alguns dos rituais ainda hoje utilizados nos ritos umbandistas em geral remontem a milhares de anos, encontrando ecos no Egito antigo e - segundo muitos acreditam - muito além, é certo afirmar que a Umbanda de hoje é uma religião sincrética, tendo sua tríplice influência nas próprias origens que deram feitio ao povo brasileiro. Indígenas, africanos e europeus se encontraram e miscigenaram em um terreno fértil, tanto físico quanto espiritual, originando sob diversas influências do astral superior o que hoje vemos e praticamos nas giras de nossos terreiros.

A partir deste post, vamos mostrar aqui um pouco a respeito deste caldeamento que proporcionou o encontro e a harmonia de linhas espirituais tão diversas, que hoje se complementam e transcendem as diferenças dentro de um conceito comum de fé, esperança, amor e caridade, levando a tantas pessoas o enlevo de que necessitam para a difícil senda que é a vida terrena de todos nós. Desde a época do primeiro encontro com os europeus em choque com a primitiva pureza de suas tradições, os índios brasileiros sabiam-se de uma origem tão antiga que denominavam a sua mítica terra de origem ancestral pelo nome de “Pindorama”, porque este nome referenciava-se a uma lenda que envolvia a idéia de um dilúvio universal que havia alcançado até a Terra das Palmeiras (Pindorama). Assim, vivendo na mítica Pindorama de seus ancestrais em perfeita integração com a natureza, sendo alguns dos povos que melhor retiveram a “centelha espitirual” das primevas raças humanas, até a chegada do “colonizador” europeu e de seus escravos africanos.

Viajantes e estudiosos da época do descobrimento e colonização inicial do Brasil espantaram-se com a constatação da profunda espiritualidade dos antigos Tupis. Suas observações demonstram que a concepção religiosa, mística e teogônica destes povos eram de uma grande pureza, elevação e estrutura moral, e que hoje entendemos, somente poderiam ser alcançadas por uma raça de antiqüíssima maturação espiritual. Jean de Lery, viajante e historiador francês, nasceu em 1534 e morreu em 1611, mesmo sendo um zeloso teólogo calvinista, fez apontamentos interessantes em seu livro Histoire dún voyage faict en la terre du Brésil (1578), onde narra suas aventuras por um ano em terra brasileiras: “Quando ribombava o trovão, a que chamavam Tupan, assustavam-se e nós aproveitávamos o lance para dizer-lhes que era Deus que assim fazia tremer o céu e a terra, afim de mostrar sua grandeza e poder. A isto respondiam que se Ele assim os intimidava, então não valia nada”.

A partir daí, as influências de culturas múltiplas negociaram entre si no terreno fértil da religião e crendice na construção de uma religião UNA. Cada cultura leu e releu em um verdadeiro jogo de espelhos, a diversidade da outra e encontrou nesta alteridade seu próprio sentido, sua verdade sincrética e culturalmente aceitável. Esse é um movimento de progressão e crescimento, como o do próprio ser humano em busca de evolução terrena e que ainda não chegou ao fim. É por essa viagem, em busca de nossas raízes e história que vamos partir agora. Boa viagem para todos nós.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CAMINHOS PERCORRIDOS


Falar de Umbanda a meu ver, é falar sobre evolução, crescimento, fé, esperança, caridade e amor. Dentro do ritual que professamos no CEUXCO Teresópolis, existem 7 graus de iniciação. O Iawôrixalá é o terceiro. O texto que hora publicamos neste blog, foi escrito por um dos médiuns que alcançaram essa importante graduação no último mês em nossa Casa. E se falar de Umbanda é o que se propõe este blog, então um texto sobre evolução, fé, esperança, caridade e amor é sempre muito propício. Obrigado, Fred pela participação, e parabéns a todos os novos Iawôs do CEUXCO!

“Somos pouco diante da imensidão do universo
Mas mesmo assim podemos ser luz ou escuridão
Podemos ser alegria ou dor
Podemos ser amor ou desunião
Todo o universo se encontra dentro dos limites do pensamento, da imaginação e do sentimento e mesmo assim, continuamos a ser pouco diante dele.
Somos tudo o que leva a Deus, mas podemos escolher ser o caminho mais curto ou o mais longo, enfim somos a escolha
Ser Iawôrixalá é mais um degrau no caminho do aperfeiçoamento religioso que nos levará a poder exercer de forma mais plena a caridade e a comunicação com nossos guias, mas as escolhas não ficarão mais fáceis, ao contrario, se tornam cada vez mais difíceis aumentando principalmente as nossas responsabilidades com a religião, conosco e com os outros seres com quem convivemos e dividimos essa pequena nave chamada TERRA. São as nossas escolhas que vão fortalecer e legitimar nossa Umbanda de paz, amor e caridade.
Toda energia é bipolar tem um caráter negativo e positivo cabe a nós a escolha de qual vamos viver. O que queremos? Não seria o amor a base de tudo? Será que nele mora a maledicência, a vingança, a intriga, a discórdia, a mentira, a confusão e a arrogância? E a caridade, essência da nossa religião, onde e como ela se encaixa nisso tudo? Vamos lembrar o nosso hino “Umbanda é Paz, é Amor é um mundo cheio de luz é a força que nos dá a vida e a grandeza nos conduz...” para que possamos atingir essa grandeza é necessário conhecermos a simplicidade e a humildade.
Sabemos que ser humilde e simples vivendo num mundo onde exaltamos o poder financeiro e o poder simplesmente pelo mero exercício do poder é muito difícil. Mas no caso da Umbanda o poder deve estar fundamentado no amor, na simplicidade e na humildade para que possamos exercer a caridade que tanto pregamos
Cada obrigação é uma iniciação para uma nova etapa do nosso trabalho espiritual, aumentamos o nosso saber, aprendemos a fazer, mas nada disso adianta se não fizermos a escolha certa de como queremos ser. Ostentar uma hierarquia de Iawo, pemba ou Bori de nada vale se não formos além do saber, do fazer, e do viver nos tornando o caminhante e o próprio caminho, em busca da perfeição divina. Nunca se esquecer da essência e nunca supervalorizar a forma; essa é a trilha que nos levará ao nosso objetivo. Quanto mais elevada à hierarquia do médium maior deve ser a simplicidade e menor a arrogância. Temos que ser seta, caminho e alvo.
Agora começamos a entender com clareza a importância dos elos numa corrente, começamos a perceber que além de nós existe os outros e que nada somos e pouco alcançaremos se não tivermos a perfeita compreensão da harmonia e da fé.
É dentro da nossa concentração, do nosso respeito pelo outro, do nosso silencio, da nossa paciência, do jeito sereno de ser e da nossa complacência é que mora esse caminho chamado ritual, chave que abre os portões para nossa comunicação com nossos mentores espirituais e nos protege da penetração das entidades que não tem interesse na evolução do ser.
Ser Iawô é ter consciência que o caminho esta só começando, mas que nossas responsabilidades já são enormes.
Que o nosso Pai Oxalá nos proteja nesse caminho de amor chamado Umbanda, que nossos Orixás, manifestações genuínas do amor de Zambi, estejam sempre nos ensinando o caminho e que nós médiuns dessa casa possamos fazer jus a esse amor divino, sendo elos fortes dessa corrente para que juntos e de mãos dadas possamos vencer nossa imperfeições para sermos estrelas brilhantes no universo do amor de Deus
Salve todos nossos Guias e nossos Orixás !
Salve nosso Pai Oxalá !”
Frederico Ricardo de Medeiros Lima

terça-feira, 6 de outubro de 2009

PLANTAS E ERVAS: BANHOS, CHÁS E DEFUMADORES NA UMBANDA


O uso de ervas para fins medicinais e religiosos é tão antigo quanto à própria organização social da humanidade. Achados arqueológicos remetem ao aparecimento e desenvolvimento da própria escrita, em diversas culturas. Mas é claro que este conhecimento já era transmitido oralmente desde sempre. O tratamento fitoterápico brasileiro é extremamente rico, já que provém de relações interculturais que deram origem à nossa própria raça e originaram também um aculturamento que ocasionou o sincretismo que hoje encontramos evidenciado na liturgia e ritos da Umbanda. Banhos, chás e defumadores fazem parte do conhecimento astral-fisico utilizado constantemente em giras de Umbanda com fins diversos. Geralmente inspirados por entidades do astral, nos últimos anos o estudo dessas propriedades vêm avançando muito e alguns dos seus segredos começam a ser desvendados. Felizes são os que são permitidos reconhecer estas propriedades e fazer bom uso de seus conhecimentos.

Os vegetais, por serem encontrados na natureza em seu estado puro, recebendo influências energéticas das mais diversas e permitindo uma fácil manipulação, são instrumentos importantíssimos para diversos fins, desde a cura física e astral, quanto a sintonia energético-vibratória com os Orixás. Através de banhos de ervas, realizados dentro da ritualística apropriada e com profundo conhecimento de causa, podem exercer funções diversas tanto quanto servir para eliminação de cargas negativas, quanto para facilitar a ligação vibratória entre médium e mentores astrais. Os chás de infusão, utilizados com fins medicinais e terapêuticos, são utilizados pela humanidade desde os seus primórdios. Até o século XVIII, o uso de ervas medicinais era mais utilizado do que a medicina convencional em todo o mundo. Hoje, em pleno século XXI, o estudo das propriedades terapêuticas de ervas e plantas está sendo mais estudado do que nunca, resultando até em milionárias brigas de registros de patentes, sobre conhecimentos já sabidos há séculos por nossos ancestrais. A Umbanda, através da consulta de Caboclos e Pretos Velhos, utiliza muito esses recursos tanto para aplacar sintomas físicos quanto de outras naturezas. E temos também a queima de certas ervas, que permitem dentro da liturgia da Umbanda e do conhecimento apropriado, a utilização de recursos ígneo-botânicos para a purificação e limpeza de ambientes e pessoas, atingindo seus propósitos tanto no nível físico quanto no astral e mental.

Como podemos ver, o uso de ervas e plantas quando devidamente empregados podem propiciar o equilíbrio e a reestruturação, a harmonia e a estabilidade, tanto do corpo físico, quanto do astral e mental. O estudo de suas propriedades e sua utilização adequada são matérias quase que obrigatórias do bom umbandista. O conhecimento de causa, mesmo que para o auxílio de nossos próprios mentores espirituais através do compartilhamento fluídico-mediúnico é uma oportunidade que não devemos menosprezar. A Umbanda e sua infinita corrente de fé, esperança e caridade agradecem.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

UMBANDA: EVOLUÇÃO x TRADIÇÃO = ELEVAÇÃO


Um dos conceitos motrizes do universo umbandista é a EVOLUÇÃO. Se nós, enquanto seres encarnados buscamos a evolução para libertarmos-nos desta condição e nossos próprios Guias e Mentores, ajudam-nos nesta caminhada para, eles mesmos, serem impulsionados além de seus próprios graus evolutivos, seria uma total incoerência imaginarmos que a própria religião que praticamos esteja pronta e acabada. A Tradição umbandista remonta há milhares de anos. O sincretismo que ela encontra em outras Tradições também. Mas temos que ter consciência que mesmo assim ela ainda não encontrou sua forma final e perfeita. O principal motivo? NÓS ainda não encontramos a nossa.

O raciocínio é simples e claro: Se a Umbanda é um dos meios encontrados para o Divino se manifestar em nós e para nós. Se nós próprios estamos em constante evolução. Como é que poderíamos querer supor que este meio não evoluiria, assim como nós próprios? Se a Umbanda por si só não evoluísse, ela simplesmente impediria que nós próprios, em determinado momento, evoluíssemos também, não é claro? É como um professor de ensino fundamental que ensina matemática ao seu aluno. Chega uma hora que ele não tem mais o que ensinar dentro do universo do ensino fundamental. A partir daí, caberá a um outro mestre ensinar a matemática mais avançada, ou a este mesmo mestre expandir o universo matemático que ele mesmo aplica ao seu aluno, ou ainda a este discípulo procurar instâncias superiores onde possa aprender níveis matemáticos mais avançados. Isso sempre, em concordância com a evolução do aluno, que poderá ou não, de acordo com seus próprios méritos, continuar estagnado recebendo as mesmas lições até aprender de fato seus significados ou avançar nos ensinamentos indo até mesmo além do que seu próprio mestre um dia imaginou.

A elevação das conquistas espirituais de nossa coletividade planetária deve ser encarada como uma das missões primordiais da própria Umbanda e, por conseguinte de todos os seus médiuns. Graças a ela, a Umbanda vem através de atitudes sincréticas, inspirações superiores e ensinamentos do Divino, evoluindo consideravelmente nos últimos anos. Graças a isso, seus médiuns também. Lógico que existem verdades espirituais sublimes e imutáveis, e a estas só nos resta uma reduzida percepção. Mas exatamente por isso, temos que estar sempre buscando nossa evolução, assim como evitarmos nos determos ad infinitum a dogmas ou tradições que limitem nossa capacidade evolutiva ou nossa oportunidade de acesso ao transcendente. Por isso, a EVOLUÇÃO não pode jamais ser subtraída pela TRADIÇÃO, mas ao contrário, somar-lhe elementos que nos permitam a nossa própria ELEVAÇÃO
.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009


“Vocês devem tomar mais cuidado não só com O QUE falam, mas também COMO falam. Às vezes, filho, uma palavra dita de certa forma dói mais que uma lambada no couro. Pra saber se vocês devem falar uma coisa, pensem primeiro em como vocês se sentiriam se alguém falasse aquilo lá pra vocês. Você já viu algum preto-velho resolver alguma coisa gritando? Pra quê gritar se você pode conversar e explicar melhor o que você quer?”
Pai Joaquim do Congo (Lula)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AS MISSÕES NA UMBANDA


“Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos”. Mateus 22:14

Dentro do ritual Banthu-Ameríndio, é no dia da obrigação de feitura da Cabeça – ou Mão de Santo – que sabemos qual a nossa missão na Umbanda. De Cambono Colofé, a Alabê, de Ganga a Babalorixá, é partir daí que sabemos o tamanho da cruz que deveremos carregar no que se refere a nossa vida espiritual. E quando me refiro ao “tamanho da cruz”, não estou querendo ser sarcástico ou fazer qualquer tipo de humor. A “cruz” de quem tem missão superior na Umbanda é pesada, pois as responsabilidades carmáticas são muitas.

Antes de qualquer coisa, “receber uma missão” dentro da Umbanda não deveria ser motivo de orgulho ou jubilio para ninguém. Se por um lado, a missão pode ser entendida como uma verdadeira convocação ou outorga divina para tarefas que exigem espíritos encarnados mais experientes ou com uma maturidade maior que os demais dentro de um determinado contexto, por outro lado, mostra claramente como é grande a necessidade do resgate cármico que esses mesmos espíritos têm. Falando mais claramente: Se você tem a capacidade para resolver e agir desta forma, se o seu espírito encarnado é capaz de tomar para si tamanha responsabilidade e mesmo assim você ainda está aqui com a necessidade fazer isso... é muito importante que você vigie bem os seus atos! Ou como diria certo irmão no santo: COM CERTEZA VOCÊ ESTÁ DEVENDO!

Vou tomar emprestado o exemplo de uma outra religião, para que o entendimento possa ser mais claro. A missão superior dentro da Umbanda, encontra parâmetros de comparação com o apostolado bíblico. Por essa razão, quem já leu a bíblia sabe que existiram muitos discípulos e poucos apóstolos. Aos apóstolos, eram conferidos ensinamentos mais amplos e minuciosos, que demonstravam idéias que aos discípulos só eram expressas através de imagens fortes ou parábolas. Por isso, creio que a convocação divina, a missão, deve ser explícita em quem a tem, não só pela autoridade conferida, ou pelo conhecimento adquirido, mas sobretudo pelo encargo moral e uma conduta condizente, refletidos em ações diárias e uma responsabilidade de quem se torna pressuposto penal necessário de punibilidade aos seus atos ou de quem o segue. Ou seja, consciente com relação aos atos que pratica ou leva outros a praticarem, sua responsabilidade cármica se torna ainda maior já que você não é mais responsável apenas por você, mas por outros também, tanto em atitudes como em modelo a ser seguido. Voltando ao exemplo bíblico, por isso nem todos os médiuns devem carregar essa “cruz” ou receber essa missão. Aliás, são poucos os que são chamados diretamente para uma missão específica, o que nos faz lembrar as palavras: “Muitos são chamados (médiuns), mas poucos os escolhidos (missão superior)”.

Então, você que recebeu ou receberá missão na Umbanda, antes de encher-se de orgulho, entenda a gravidade e a responsabilidade da qual você foi imbuído. Entenda que é através deste - com certeza - difícil caminho, mas - quem sabe - também recompensadora senda, é que você conseguirá resgatar dívidas pretéritas e posicionar-se um dia em um plano mais elevado, mas que hoje você ainda não está lá. Como diz aquele belo ponto de Linha das Almas: “Eu fui à Bahia, fui pedir ao Senhor do Bonfim, que Ele me ajudasse, a seguir na Umbanda meu caminho até o fim, Meu senhor do Bonfim, me ajude, Eu preciso de paz e saúde”. E claro, muito discernimento.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (8): CONCLUSÃO


"Se um asiático me pedisse uma definição de Europa, eu seria forçado a responder-lhe: É aquela parte do mundo que é assombrada pela incrível ilusão de que o presente nascimento da pessoa é sua primeira entrada na vida…" Schopenhauer (Parerga e Paralipomena)

Chegamos aqui ao fim desta série de posts sobre a Crença Universal na Reencarnação e espero então poder voltar mais diretamente ao tema principal deste blog: Umbanda. Vale porém lembrar, que mesmo se tratando de um assunto comum a toda uma gama de religiões que aceitam e acreditam na reencarnação da alma humana, não nos distanciamos tanto assim do nosso objetivo primário. Embora a idéia inicial desta série fosse responder a um belo comentário de minha prima e irmã no santo, Cacau, a respeito de pessoas que professam outras religiões – ver o primeiro post desta série -, ao falarmos sobre o amplo conceito de reencarnação, transmigração, guigul, mentempsicose, renascimento, ou qualquer que seja o nome dado em qualquer cultura ou religião, falamos também a respeito de alguns dos conceitos mais básicos e fundamentais de nossa religião: REENCARNAÇÃO, CARMA, AÇÃO E REAÇÃO, MUNDO ESPIRITUAL, EVOLUÇÃO DA ALMA etc. Todos estes, comuns e apregoados nas mais diversas culturas, épocas e religiões, como pudemos ver durante esta nossa “viagem”.

É claro, que o objetivo desta série de posts não foi nunca ser um tratado completo e definitivo sobre o assunto. Ao contrário, foi só o de abrir os olhos para uma infinidade e diversidade de conceitos, crenças e mitos a respeito da reencarnação, expandindo horizontes e incentivando a curiosidade. Quem sabe até suscitar em você, leitor, a sede de pesquisa neste tão amplo tema? Há muito ainda que não citamos neste blog. Por exemplo, não falamos sobre os cátaros, uma doutrina intelectual cristã que acreditava em reencarnação e foi considerada herege, caçada e destruída pela Igreja Católica no século XIII. Muitos acreditam que eram eles os possuidores do Santo Graal. Embora o islamismo ortodoxo não aceite o conceito de reencarnação, espalhados por todo o oriente médio existiram confrarias sufistas onde sábios mestres dervixes ensinavam o contrário. Segundo alguns deles, o texto do Alcorão se divide entre o texto propriamente dito, zahir, e seu sentido oculto, batin, que somente uma freqüente meditação “iluminada” pode ajudar a desvendar. Existem também os Drusos, religião encontrada na Síria e Israel nos dias de hoje, professada também no Líbano e que acreditam na reencarnação como meio de purificação da alma até a perfeição divina. Ou os Alauítas, religião predominante na Síria que embora seja sincrética com elementos muçulmanos, cristãos, judeus e iranianos, acredita na reencarnação como meio de evolução da alma. Enfim, uma infinidade de culturas, crenças e mitos a serem explorados.

De qualquer forma, os primeiros passos foram dados. Cabe agora a você continuar esta jornada por conta própria. Continuaremos por aqui falando sobre a que este blog se propõe: UMBANDA, evolução espiritual e a busca por um caminho de luz. Esperamos que esta jornada tenha sido tão informativa e gratificante para você como foi para nós. Mas antes de terminar, vale citar o grande filósofo iluminista francês, Voltaire (1694-1778), maçom, ensaísta polêmico, defensor da liberdade imprensa, tolerância religiosa, imparcialidade criminal e uma das grandes mentes da história humana: “Afinal, não é mais surpreendente nascer duas vezes que nascer uma vez...”

Para quem quer saber mais:
Sociedades Secretas – Vol. I – Jean-François Signier e Renaud Thomazo
Parerga e Paralipomena – Arthur Schopenhauer
Religiões do Mundo - John Bowker

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (7): JUDEUS


“Se alguém é mal sucedido no seu propósito neste mundo, o Eterno, Bendito seja, o desenraiza e planta mais e mais vezes“. (Zohar I 186b)

Ao descer do Monte Sinai, Moisés trouxe em suas mãos as tábuas sobre as quais Javé gravou os dez mandamentos que doravante deverão servir de Lei ao povo hebreu. Esse episódio fundamenta o caráter exotérico do judaísmo. Porém, os ensinamentos esotéricos são reservados para poucos estudiosos e as correntes se confundem. O fato de que a reencarnação seja parte da tradição judaica surpreende muita gente. Apesar disso, ela é mencionada em numerosas passagens em todos os textos clássicos do misticismo judaico, começando com a preeminente obra da Cabala, o Sefer há-Zohar (Livro do Esplendor).

Embora sejam muitos os que entendem que o conceito de reencarnação sempre esteve firmemente impresso na religião judaica, existem aqueles que não a aceitam de forma alguma. De um modo geral, com o nome de Transmigração de Almas (em hebraico Guilgul Neshamot), os praticantes do judaísmo, especialmente as correntes ortodoxas - como o hassidismo (aqueles judeus que andam de casacos e chapéus pretos) - e cabalistas acreditam que, após a morte, a alma reencarna numa nova forma física. Diversos textos clássicos atribuem grande importância à doutrina da Reencarnação, usada para explicar que os justos sofrem porque pecaram em uma vida anterior. Neles, o renascimento é comparado a uma vinha que deve ser replantada para que possa produzir boas uvas.

O Rabi Shamai Ende escreveu, na revista Chabad News de Dezembro de 1998: "O conceito de Guilgul (reencarnação) é originado no judaísmo, sendo que uma alma deve voltar várias vezes até cumprir todas as leis da Torah. Na verdade, cada alma tem dois tipos de missões nesse mundo. A primeira é a missão geral de cumprir todas as mitsvot da Torah. Além disso, cada alma tem uma missão específica. Caso não tenha cumprido a sua, a alma deve retornar a este mundo para preencher tal lacuna. Somente pessoas especiais sabem exatamente qual é sua missão de vida”.

Como vimos no post anterior, sobre religiões cristãs, diversas traduções da Bíblia, deturparam muitos dos seus significados no decorrer dos anos, de acordo com seus próprios interesses. Um exemplo claro está na seguinte passagem do Salmo 19:8, em Hebraico transliterado: "Torát Iavéh temimáh mshibat nefésh. 'edut Iavéh neemanoáh machkimat péti". A tradução mais fiel seria: "O ensinamento de Deus é perfeito, faz o espírito voltar. O testemunho de Deus é verdadeiro, transforma o simples em sábio". No entanto, a tradução feita pelas seguintes bíblias altera o sentido original da reencarnação: Bíblia Protestante da SBB (Sociedade Bíblica do Brasil): "A Lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma". Ou a Bíblia Mensagem de Deus (Edições Loyola): "A lei do Senhor é sem defeito, ela conforta a alma". Ou ainda a Bíblia de Jerusalém (Edições Paulinas): "A lei de Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar". Ou seja, fica fácil entender porque os judeus não aceitam o Novo Testamento.


Para terminar, vamos às palavras do rabino Philip S. Berg: “A palavra hebraica para reencarnação é Guilgul Neshamot, que literalmente quer dizer “roda da alma”. É para esta vasta roda metafísica, com sua coroa constelada de almas, como estrelas nas bordas de uma galáxia, que devemos dirigir nosso olhar, se desejamos ver além da aparência da inocência punida e da maldade recompensada. Guillgul Neshamot é uma roda em constante movimento e, ao girar, as almas vêm e vão diversas vezes, num ciclo de nascimento, evolução, morte e novo nascimento. A mesma evolução ocorre com o corpo no decorrer de uma única vida”.

Para quem quer saber mais:
Analisando as traduções Bíblicas - Severino Celestino da Silva
Sociedades Secretas - Vol.I - Jean-François Signier e Renaud Thomazo
Chabad Brasil - Rabi Avraham Brandwein
Reencarnação – As rodas da alma - Rabino Philip S. Berg



A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (8): CONCLUSÃO

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (6): CRISTÃOS


'"Por que dizem, pois, os escribas que Elias deve vir primeiro?", ao que Jesus respondeu "Elias certamente há de vir, e restabelecerá todas as coisas. Digo-vos, porém, que Elias já veio, e não o reconheceram, antes fizeram dele o que quiseram". Então os discípulos compreenderam que lhes tinha falado de João Batista.'(Mateus, 17:10-13)

Segundo a maioria das pessoas sabe, a Igreja Católica, as Protestantes e os neo-Pentecostais costumam rejeitar a noção de reencarnação. O que a maioria das pessoas ignora, porém, é que historiadores isentos são quase unânimes em afirmar que os conceitos de reencarnação foram “apagados” dos textos cristãos no II Concílio de Constantinopla, em 553 d.C., sob influências do Imperador Justiniano, o que a Igreja Católica nega veementemente, alegando nunca ter tratado deste assunto e sim apenas condenado a pré-existência da alma.

Segundo fontes históricas, Justiniano era influenciado por sua esposa Teodora, filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizância, que como ex-cortesã convertida ao catolicismo, tinha medo de ter que pagar em outra vida pelos pecados desta, influenciando assim seu marido que também passou a temer reencarnar como um homem comum ou pior: um escravo. Justiniano declarou verdadeira “guerra” aos ensinamentos do exegeta e teólogo Orígenes (185-235 d.C.) que reconhecia abertamente o conceito da reencarnação, e convocou o Concílio, de onde só participaram 164 bispos, sendo que 159 eram da Igreja Ortodoxa Oriental, diretamente influenciados por Justiniano, o que garantiu a ele os votos necessários para fazer o que ele quisesse. Vale salientar também que, embora estivesse em Constantinopla, sob a “proteção” do Imperador, não foi o Papa Virgílio quem convocou o Concílio, sendo a ele apenas submetidos alguns documentos para ratificação papal, o que acabou validando a reunião.

É praticamente um consenso entre pesquisadores e historiadores fora do ambiente católico, que os atuais textos da Bíblia foram tremendamente adulterados ao longo dos séculos, o que acaba gerando críticas e uma verdadeira “guerra santa” de erudição teológica. Ainda assim, espíritas citam diversos trechos das Sagradas Escrituras para validarem seus argumentos. Passagens como: Isaías, cap. XXVI, v.19: "Aqueles do vosso povo a quem a morte foi dada viverão de novo; aqueles que estavam mortos em meio a mim ressuscitarão". Ou ainda: Job, cap. XIV, v.10 a 14: "Quando o homem está morto, vive sempre; acabando os dias da minha existência terrestre, esperarei, porquanto a ela voltarei de novo". Tendo também clara referência à reencarnação em: S. Mateus, cap. XVI, v.13 a 17 - S. Marcos, cap. VIII, v. 27 a 30: "... porque uns diziam que João Baptista ressuscitara dentre os mortos; outros que aparecera Elias; e outros que um dos antigos profetas ressuscitara...". Entre diversos outros. É claro que os modernos teólogos católicos alegam que estas passagens são sempre citadas fora de contexto ou ainda sujeitas a diversas interpretações. Os teólogos protestantes e neo-pentecostais, religiões que surgiram muitos anos depois, costumam assumir também a visão herdada da Igreja Católica.


É fato, porém, que na antiguidade, diversos teólogos da Igreja levantavam também essa questão. Alguns acreditavam que passagens do Velho Testamento só poderiam ser explicadas à luz da crença na reencarnação. Em favor da teoria reencarnacionista, São Gregório, Bispo de Nissa, afirmou que "a alma precisa purificar-se e isso não acontecendo durante a vida na Terra, deve ser realizado em outras vidas futuras". Santo Agostinho, no seu livro Confissões, chegou a interpelar a si mesmo: "Não vivi em outro corpo antes de entrar no ventre de minha mãe”? São Clemente, de Alexandria, também era adepto fervoroso da teoria da reencarnação e isso pode ser facilmente encontrado em muitos de seus escritos. E para finalizar, Orígenes, que foi seu discípulo e herdou sua cadeira na escola catequética alexandrina, sábio cristão e mestre da Igreja até ser declarado herege por Justiniano, dizia: "Todas as almas chegam a este mundo fortalecidas pelas vitórias ou debilitadas pelas derrotas de uma vida pregressa. O seu lugar neste planeta é determinado por seus méritos ou deméritos do passado".


Para quem quer saber mais:
O Mistério do Eterno Retorno - Jean Prieur
Reencarnação, O Elo Perdido do Cristianismo - Elisabeth Clare Prophet
Bíblia Sagrada de acordo com a Vulgata Latina



A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (7): JUDEUS

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SETEMBRO: MÊS DOS IBEJIS


No CEUXCO (Centro Espírita de Umbanda Xangô Caô do Oriente), casa espírita do ritual Banthu-Ameríndio, onde professo minhas crenças e cultuo meus Orixás, temos como tradição comemorar em setembro os Ibejis. Orixás-crianças, ou gêmeos, ou encantados, são de grande importância nos trabalhos espirituais, tanto que, embora não possam ser Chefes de Cabeça, não é raro serem “coroados” 2° ou 3° Orixás na Cabeça de algum médium da casa. Outro dia mesmo, em uma quarta-feira de consulta onde prestamos caridade a quem nos procura, Pai Joaquim do Congo (Lula) me deu uma bela lição enfatizando a importância da ajuda destas entidades nos trabalhos dos pretos-velhos. Segundo ele, trabalhar com Ibejis era ótimo, já que eles se esforçam muito em ajudar, resolvem o que têm para resolver rápido e ainda voltam logo querendo fazer mais! Pensando nisso, resolvi prestar uma “homenagem”, publicando aqui esta bonita ITAN (Pra quem não sabe, um conto ou parábola, utilizada para transmitir conhecimentos na África ancestral) que, para mim, representa bem o poder e o jeito de "trabalhar-brincando" desta linha de Orixás:

“Os Ibejis, os orixás gêmeos, viviam para se divertir.
Não é por acaso que eram filhos de Oxum e Xangô.
Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos, que ganharam de presente de sua mãe adotiva, Iemanjá.
Por onde passavam as pessoas falavam: “Olhem os Ibejis brincando”!
Nessa mesma época, a Morte colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer os humanos que caíam em suas arapucas.
Homens, mulheres, velhos ou crianças, ninguém escapava da voracidade de Icu, a Morte.
Icu pegava todos antes do seu tempo de morrer haver chegado.
O terror se alastrou entre os humanos.
Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros, todos se juntaram para pôr um fim à obsessão de Icu.
Mas todos foram vencidos.
Os humanos continuavam morrendo antes do seu tempo.

Os Ibejis, então, armaram um plano para deter Icu.
Um deles foi pela trilha perigosa onde Icu armara sua mortal armadilha.
O outro irmão seguia escondido, o acompanhado à distância por dentro do mato.
O Ibeji que ia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor.
Tocava com tanto gosto e maestria que Icu, a Morte ficou maravilhada, não quis que ele morresse e o avisou da armadilha.
Icu se pôs a dançar inebriadamente, enfeitiçada pelo som do tambor do menino.
Quando o irmão cansou de tanto tocar, o outro, que estava escondido no mato, trocou de lugar com o irmão, sem que Icu nada percebesse.
E assim um irmão substituía o outro e a música jamais cessava.
E Icu dançava sem fazer sequer uma pausa.
Icu, ainda que estivesse muito cansada, não conseguia parar de dançar.
E o tambor continuava soando seu ritmo irresistível.
Icu já estava esgotada e pediu ao menino que parasse a música por uns instantes, para que ela pudesse descansar.
Icu implorava, queria descansar um pouco.
Icu já não agüentava mais dançar seu tétrico bailado.
Os Ibejis então propuseram um pacto.
A música pararia, mas a Morte teria que jurar que retiraria todas as armadilhas.
Icu não tinha escolha e rendeu-se.
Os gêmeos venceram.
Foi assim que os Ibejis salvaram os homens e ganharam fama de poderosos, porque nenhum outro orixá conseguiu ganhar aquela peleja com Icu, a Morte.

Os Ibejis são poderosos, mas o que eles gostam mesmo é de brincar.”



Essa itan, para bom entendedor, contém várias informações relacionadas aos Ibejis. Mas vale lembrar mais uma coisa que muitos podem não saber: Embora Icú, a Morte, não seja cultuado em nosso ritual, ele faz parte do panteão dos Orixás africanos. Segundo a crença yorubá, Icú é quem vem buscar as pessoas que morrem para levá-las de volta ao ventre de Nanã. É Nanã quem cria os seres do AIYÉ (Terra). Ela modela com a lama que tira da terra, mas quando Nanã cria uma pessoa, outra tem que morrer para preencher o buraco da terra. O buraco é o próprio ventre de Nanã, por isso ela precisa dos mortos que Icu vai buscar para enchê-lo de novo e o ciclo recomeçar...


Para quem quer saber mais:
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi
As Nações Kêtu – Origens, ritos e crenças – Agenor Miranda Rocha

quarta-feira, 2 de setembro de 2009


"Exú é uma entidade tão boa quanto qualquer outra! Ele trabalha com energias positivas também! Quem pode transformar essa energia em negativa é o médium com quem ele trabalha. É como a física e a matemática ensinam: Positivo(Exú) com negativo(Médium) é igual a negativo(Energia). Assim como positivo(Exú) com positivo(Médium) é igual a positivo(Energia). Então tudo vai depender do médium..."
Pai João Cambinda (Delmo)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (5): ÍNDIA


"Nunca houve um tempo em que Eu não existisse, nem você, nem todos esses reis; e no futuro nenhum de nós deixará de existir. Assim como, a alma encarnada passa seguidamente, neste corpo, da infância à juventude e à velhice, similarmente, a alma passa para um outro corpo após a morte. Uma pessoa sóbria não se confunde com tal mudança". - Bhagavad-gita (2: 12-13)


Arqueologicamente, os registros históricos sobre a reencarnação na Índia são tão antigos quanto os do Egito, mas popularmente a identificação foi ainda maior já que foi nessa cultura que o conceito encontrou seu grande desenvolvimento, fazendo parte das crenças dos seus habitantes até hoje. Segundo a maioria dos pesquisadores, o surgimento da doutrina na Índia é por volta de 1.500 a.C., com a publicação dos Vedas, uma obra poética composta por 1.200 hinos dedicados aos deuses e uma série de práticas religiosas.


Em toda parte é possível encontrar relatos de pesquisadores não ligados à chamada “arqueologia oficial”, que afirmam datas muito mais recuadas para a civilização da região, propondo assim que as noções de reencarnação já estariam estabelecidas na Índia em uma época muito anterior ao surgimento da civilização egípcia. Segundo estas fontes, os árias – ou arianos – teriam chegado à região posteriormente, somente assimilando os antigos conhecimentos. Estes estudiosos garantem que é de fato na Índia que nasceu a verdadeira compreensão da reencarnação, falando em um processo infinito de morte e renascimento como uma forma de levar a humanidade a compreender a iluminação e buscar a libertação da alma.


Assim, antes da religião hindu se ramificar em inúmeras crenças e cultos, ela possuiria um credo único, segundo o qual todas as formas da natureza eram manifestações da Vida Una, com exceção da alma, vista como um elemento diferenciado desta unidade. Sua “missão” era modificar-se, crescendo e aprendendo através de sucessivas encarnações, até poder retornar à sua origem, ao ponto de onde surgiu, atingindo assim a libertação. Segundo uma das crenças hindus, moksha (libertação) é o quarto e derradeiro objetivo na samsara (ciclo de renascimento) em mundos inferiores. Quem alcança a moksha, já ultrapassou a ignorância e percorreu o marga (caminho). O marga é composto de três percursos principais: Jnana (caminho do conhecimento ou compreensão), Bhakti (caminho da devoção) e Karma (caminho da ação). Pode-se conseguir a iluminação através de qualquer uma dessas vias, cada espírito está livre para escolher a que parece mais apropriada para a atual encarnação. O certo é que a moksha não pode ser um objetivo em si, na verdade ela só poderá ser alcançada quando todo o desejo e o apego forem abandonados, incluindo o desejo pela própria moksha. Não existe nenhum salvador ou redentor, mas muitas seitas, guias, gurus ou deuses que podem te auxiliar durante o caminho.


Vale lembrar que a doutrina na Índia apresenta uma diferença com relação à moderna Doutrina Espírita levantada por Kardec e aceita como base pela maioria dos pensadores atuais: Ela entendia que era possível uma pessoa retornar para uma nova vida no corpo de um animal. Perante o espiritismo moderno, dentro da lógica que conhecemos, a alma não pode regredir. Pode estacionar, mas a evolução do espírito não admite retrocesso. Assim sendo, na nossa Umbanda admite-se a reencarnação como o processo das existências sucessivas, retomando o espírito o corpo físico, mas do mesmo ponto evolutivo em que se encontra para um novo aprendizado ou para restabelecer o equilíbrio perdido em vidas pretéritas.


Para quem quer saber mais:
Religiões do Mundo – John Bowker
Bhagavad-gita Como Ele É - A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Índia Antiga Didática - André Bueno
Os Vedas – Raul Xavier


A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (6): CRISTÃOS

sexta-feira, 28 de agosto de 2009


Entre um ou outro assunto comentado aqui, me veio a idéia de postar algumas palavras e ensinamentos dos maiores sábios e psicólogos da Umbanda que eu professo e conheço: Os Pretos Velhos. Ao contrário do que se propõe nos outros textos aqui publicados, esta série deverá surtir apenas o efeito reflexivo interior. Cada um absorva, entenda e faça destes conselhos o que melhor lhe convir...

“(...) meu filho, o maior erro de vocês aqui na Terra é SABER como fazer as coisas, mas na hora de fazer, agir como se não soubessem. O problema às vezes não está em saber mais ou em fazer mais 'aprendedor' das coisas. O problema está em FAZER CERTO o que vocês JÁ sabem.”
Pai Joaquim de Mina (Marcelo)

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (4): GRÉCIA


“A alma, presa ora nesta criatura, ora naquela, assim percorre uma ronda ordenada pela necessidade”. - Pitágoras

Ao contrário do que existe em relação à China e Japão, como vimos anteriormente, não existem dúvidas quanto à existência do conceito de reencarnação entre os gregos. A maioria dos estudiosos dá conta que a doutrina chegou à Grécia vinda do Egito, tendo sido introduzida por Pitágoras, que foi seguido por Sócrates, Platão Apolônio, Empédocles e outros grandes filósofos e pensadores até hoje reconhecidos.

Pitágoras (569-470 a.C.) era categórico ao ensinar que a vida em um corpo humano, na carne, era apenas uma das etapas de um caminho bastante longo visando à evolução da alma. Entendia que era possível aos encarnados mais evoluídos lembrarem-se de passagens de suas vidas anteriores, e acreditando ele próprio ter esse dom, costumava narrar passagens de suas quatro vidas precedentes aos seus discípulos, ajudando também através de métodos próprios a quem quisesse se lembrar de suas reencarnações anteriores. Ou seja, foi ele o percussor da famosa “terapia de vidas passadas”.


Alguns historiadores, porém, afirmam que na verdade a reencarnação professada por Pitágoras estaria mais de acordo com a noção de transmigração das almas, tida por alguns como uma crença mais primitiva que aceitava a reencarnação no corpo de animais. Seria uma influência do orfismo (de Orfeu), originada da Trácia e uma religião essencialmente esotérica. Nela, seus seguidores acreditavam na imortalidade da alma, ou seja, enquanto o corpo se degenerava, a alma migrava para outro corpo, por várias vezes, a fim de efetivar a purificação ou evolução. O deus Dioniso guiaria este ciclo de reencarnações, podendo ajudar o homem a libertar-se dele. Pitágoras, embora acreditasse na transmigração da alma, seguia uma doutrina um pouco diferente. Teria chegado à concepção de que todas as coisas são números e o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço de evolução basicamente intelectual.

A título de curiosidade, aos bons entendedores, vale contar que os pitagóricos estudaram e demonstraram várias propriedades dos números figurados. Entre estes o mais importante era o número triangular 10, chamado pelos pitagóricos de tetraktys, tétrada em português. Este número era visto como um número místico uma vez que continha os quatro elementos fogo, água, ar e terra: 10=1 + 2 + 3 + 4, e servia de representação para a completude do todo.
(Confira atentamente o desenho que ilustra esta postagem)
A tétrada, que os pitagóricos desenhavam com um α em cima, dois abaixo deste, depois três e por fim quatro na base, era um dos simbolos principais do seu conhecimento avançado das realidades teóricas. Representação toda perfeita em si de qualquer um dos lados que se observe.

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (5): ÍNDIA.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (3): CHINA, JAPÃO E O EXTREMO ORIENTE


A maioria dos pesquisadores e historiadores não relata o conceito de reencarnação no extremo oriente, ainda que, evidentemente eles tivessem desenvolvido o conceito de vida após a morte. Mas esta não é uma unanimidade. Existe quem defenda a existência da noção de reencarnação em épocas bastante remotas na China. Mesmo no Japão, onde o xintoísmo pode ser considerado a única religião exclusivamente japonesa – o budismo só teria chegado muito depois - o conceito de adoração a espíritos e o culto aos antepassados é muito forte.

O termo “xin-tao” quer dizer “caminho dos deuses”, e o xintoísmo baseia-se numa mitologia panteísta com inúmeras divindades que atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Na verdade tudo no universo é divino para essa concepção, sendo interligado e interdependente de forma que não só os seres vivos, mas o vento e a água, as pedras, a montanha, e todos os níveis invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte. É impossível não pensar no nosso culto aos Orixás quando vemos o Xintoísmo desta forma, mas um estudo aprofundado revela também uma mitologia muito rica e intrigante, com lendas de deuses encarnados e a constante busca humana por um caminho de luz. Segundo a crença xintô, existe o grande Kami – a natureza, a origem de tudo, o absoluto, o princípio fundamental – e dele saíram os diversos kami – vias de luz, divindades, espíritos sagrados. E claro, existem os seres humanos. Os seres humanos através de seus méritos próprios seriam capazes de incorporar o grande Kami e atingir a “via”, tornando assim o ser humano, a via e o Absoluto, um só. De qualquer forma, a pureza ou a luz é o que as pessoas devem almejar, mas esta só será encontrada quando em seu “estado puro”. A vida na impureza conduz a desgraça e ao sofrimento, atraí espíritos malignos e gera repúdia dos deuses. Somente a honra e a retidão dos atos trarão a purificação. Vale lembrar que no xintoísmo não existe o conceito católico da danação eterna, pois a vida continua no mundo extra-físico, como aconteceu com os antigos deuses, e haverá sempre uma chance de reabilitação.

Já na China antiga o conceito de reencarnação é mais aceito. Com autoria atribuída a Lao-Tse, no século 6 a.C., o texto Tao-Te-King, contém noções que já faziam parte da cultura chinesa há milhares de anos. Nele, consta que não é possível ignorar que o verdadeiro “eu” é imortal e que huen (alma) retornaria ao Tao – o princípio universal, a atividade criadora do universo, o Tudo, o equivalente para nós umbandistas a Zambi – após a morte. A tradução do texto é bastante controversa, desde o seu título que segundo estudiosos quer dizer: “Livro da Lei Universal e da Sua Ação”, ou “Livro do Ser Supremo e do Bem Supremo”, segundo outros. De qualquer forma, muitos afirmam também que huen (alma) permaneceria em sua existência individual, passando por diversas encarnações, precisando completar um ciclo de experiências ou de vidas antes de retornar ao Tao. De certo mesmo, é que os chineses acreditavam sim que existia vida após a morte e também que cada ser humano possuía duas almas: a alma “material” chamada de p’o e a alma “espiritual”, chamada de huen, que só surgia na pessoa após o seu nascimento. Um conceito muito semelhante ao do perispírito e espírito trazido por Kardec.

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (4): GRÉCIA.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (2): EGITO E ORIENTE MÉDIO


“Os homens não vivem somente uma vez, partindo em seguida para sempre. Eles vivem numerosas vezes e em numerosos lugares, embora não seja sempre neste mundo. Entre duas vidas, há um véu de obscuridade. A porta abrir-se-á no fim e nos mostrará todas as câmaras que nossos passos atravessaram desde o começo.”
Do Papiro de Anana, Vizir e Escriba do Faraó Sethi II (1320 a.c.)


Nos dias de hoje, ainda é difícil determinar o momento histórico exato em que a crença na reencarnação surgiu. Embora alguns estudiosos queiram fazer crer que ela já fazia parte de uma ciência desenvolvida na Atlântida, milhares de anos antes das pirâmides serem planejadas, é no Egito antigo que nove entre dez pesquisadores do ocultismo e espiritismo em geral encontram os relatos mais antigos a esse respeito. Em 3.000 a.C. os egípcios já diziam que, antes de ter nascido, a criança já havia vivido antes, uma vez que a morte não significa o fim. Na antiga Mesopotâmia, berço da civilização 6.000 anos a.C., a reencarnação embora não fosse um conceito explícito, era também, sem dúvida nenhuma um princípio fundamental nos mitos e lendas sumérias.

Os mesopotâmicos acreditavam no “Eterno Retorno”, um conceito que talvez não possa ser exatamente o que hoje entendemos como reencarnação, mas que se aproxima dele. Em primeiro lugar, as “Descidas à Mansão dos Mortos” são um tema constante na cultura Mesopotâmica, e todas, sem exceção, tratam do triunfo do espírito sobre o desejo, atos errados ou culpa, assim como a ascensão às “Grandes Alturas”, outro mito recorrente nas lendas sumérias. Em “As Cartas Fenícias”, temos um relato real de um mestre ao seu discípulo iniciado nas Tradições, um príncipe-sacerdote, por um período de dois anos. Nelas, a visão da Tradição Mesopotâmica se assemelha, em muito, com a própria visão Umbandista da reencarnação, embora de forma bastante metafórica. Vamos ver o que o Mestre explica para seu discípulo sobre reencarnação: “Sabei, oh Príncipe que a morte é a fonte da vida, a vida a causa da morte". E sobre o que acontece quando se morre: “Ele então irá lutar na Mansão dos Mortos as batalhes que ele não venceu, pois diz-se que quando morre um indivíduo, tudo o que esta pessoa fez ser-lhe-á apresentado, para ver se ele/ela se arrependem ou não de suas ações. Se ele lamentar e sofrer pelas ações que não pôde realizar ou nas quais falhou em executar, então este é um peso que ele deve carregar na sua próxima [vida]. Aqui está um relato de justiça: os assessores do inferno farão descer sobre cada homem seus crimes, seus amores e ódios, sendo que tal indivíduo será atraído pelos mesmos eventos, sem parar, até que as ações de sua vida não mais estejam manchadas".
Não seria parecido com isso o período logo após o desencarne, segundo aprendemos com nossas entidades? Onde cada um de nós se veria diante da própria consciência, palmilhando nossos próprios atos e pensamentos na encarnação anterior e ainda mais além? E o mestre mesopotâmico ensina mais: “Esta pessoa deverá encontrar os demônios que ela mesma criou, deve lutar as batalhas que ocorreram dentro de si mesma a cada dia. Isto é justiça: entre cada respiração, ele deverá ver o julgamento que será passado por sobre ele. Apenas coragem e perseverança na verdade e na visão interior são as armas desta pessoa lá".

Já os egípcios, acreditavam numa vida além-túmulo de forma mais explícita e organizada. Falavam sobre o mundo chamado Amenti, no qual os mortos deveriam exercer funções e levar uma existência bastante parecida com a que tinham em vida. A tradição afirmava que, às vezes, a alma regressava ao seu túmulo, ao seu corpo mumificado, e o Ka era o veículo por meio da qual a alma, Ba, regressava ao corpo. Hoje em dia, o Ka é definido como uma espécie de “duplo” do corpo humano, identificado por alguns espíritas como “corpo astral”. Existem também relatos de reencarnação em outros corpos ou até mesmo em animais. O próprio Osíris, um deus egípcio que depois de ter sido morto e esquartejado por seu irmão Seth, teria subido aos céus e depois reencarnado. Segundo o famoso “Livro dos Mortos” da tradição egípcia, seria Osíris o juiz que decidiria, em seu tribunal, se o recém-morto deveria sofrer ou não em sua próxima vida, de acordo com seus atos na vida anterior. Vale lembrar que a crença egípcia na reencarnação nunca foi popular, sendo em grande parte restrita apenas a sacerdotes iniciados nos ensinamentos esotéricos. O “Papiro de Anana”, descoberta arqueológica que teria sido escrita por volta de 1.320 a.C. e cuja citação inicia este artigo, é mais um indício que os antigos egípcios acreditavam fortemente na reencarnação e na imortalidade da alma.

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (3): CHINA, JAPÃO E O EXTREMO ORIENTE.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (1): INTRODUÇÃO


Minha querida prima e irmã no santo, Cacau, fez um comentário muito bonito na primeira postagem deste blog dizendo que quando descobriu a própria alma, se encontrou. Bonito demais isso! Ela diz também que nunca entendeu quem não acredita em alguma coisa além da morte. A vida fica sem sentido. E é exatamente quando resolve ir atrás desse sentido que o homem se volta para Deus, para algo maior e além dele próprio. Ao contrário do que muita gente possa imaginar, pesquisas dão conta que 2/3 da população mundial acredita na reencarnação. No Brasil, graças à profunda penetração dos cultos afro-brasileiros e da doutrina espírita de Kardec, é bem provável que esse número seja ainda maior.

Ainda que a definição de “reencarnação” ganhe nesta pluralidade de culturas e regiões mundiais muitas variações, basicamente é tida como a crença na sobrevivência do espírito (ou alma) humano após a morte do corpo material. O chamado desencarne. E seguida por uma passagem por um ambiente astral (ou espiritual), o seu retorno à crosta terrestre, a orbe que habitamos ou alguma outra em alguns casos, em um novo corpo físico. A reencarnação propriamente dita.

Enquanto o espírito se encontra no ambiente astral, ele toma conhecimento de suas ações e pensamentos ao longo da vida terrena, sabendo de suas encarnações anteriores, seus erros e acertos e se preparando para voltar e começar tudo outra vez, até que a soma dos seus acertos seja significantemente maior que a dos seus erros (carma e darma ou causa e feito). Esta é a visão resumida de como a Umbanda enxerga o processo de reencarnação. Considerada uma das crenças mais antigas do planeta, o legal mesmo é quando a gente descobre que quase todas as outras religiões do mundo, de uma forma mais explícita ou meramente metafórica, concordam com essa visão.

E é exatamente para gerar um pouquinho dessa polêmica e dar aos nossos irmãos e leitores mais conhecimento sobre este assunto que nós vamos publicar, a partir de hoje, uma rápida visão da reencarnação em outras religiões. Vale lembrar, que não temos aqui a pretensão de fazer um guia ou um tratado completo. Ao contrário, queremos apenas indicar o caminho para futuras pesquisas a quem se interessar pelo assunto. E para se fazer justiça, é bom também que se diga que todo pesquisador costuma defender as idéias em que acredita, de modo que o que se lerá aqui, será escrito sob a ótica umbandista, religião, aliás, a qual se propõe discutir este blog.

“Boa viagem” me parece mais do que apropriado para quem iniciar essa leitura...

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (2): EGITO E ORIENTE MÉDIO

terça-feira, 4 de agosto de 2009

QUAL O CAMINHO CERTO?


“Eu fui a Bahia, fui pedir ao Senhor do Bonfim,
Que ele me ajudasse, a seguir na Umbanda meu caminho até o fim...”


Meu irmão no santo, Marcelo Oliveira, fez um comentário muito bonito a respeito do texto de abertura publicado neste blog. Afirmando a sua fé e o seu amor pela religião que abraçou, ele não deixa de se indagar que, se ele tivesse nascido em outra cultura ou país, se sua escolha não seria outra? Lógico Marcelão, que essa é uma questão profunda, filosófica e social. Eu, particularmente, não acredito que alguém “escolhe” o caminho da Umbanda. Ao contrário, acho que a Umbanda nos “escolhe”. Assim como a Umbanda “escolheu” por renascer no Brasil e não em nenhum outro país mais ou menos desenvolvido. Há o livre arbítrio, claro que há! Mas no fundo, a escolha do caminho nem importa tanto. o que vale é como esse caminho transforma você. Recebi um e-mail do nosso irmão Carlinhos Cambono que ilustra bem isso. Ele retrataria – digo retrataria, porque em se tratando de Internet nunca se sabe – um encontro entre o teólogo brasileiro Leonardo Boff e o líder espiritual budista Dalai Lama. Boff é quem conta a história:

"No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, na qual ambos (eu e o Dalai Lama) participávamos, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, lhe perguntei em meu inglês capenga:- "Santidade, qual é a melhor religião?" (Your holiness, what`s the best religion?)Esperava que ele dissesse: "É o budismo tibetano" ou "São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo." O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos - o que me desconcertou um pouco, por que eu sabia da malícia contida na pergunta - e afirmou: "A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor."Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar: - "O que me faz melhor?"Respondeu ele: -"Aquilo que te faz mais compassivo" (e aí senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta), “aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável... Mais ético... A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião..."Calei, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável...”

Não sei a você, Marcelão, mas a Umbanda me mostra isso. Se eu não tivesse “sido escolhido” pela Umbanda, talvez tivesse seguido por outro caminho e escolhido outra religião. Ou talvez não. Na verdade isso não importa. E não importa porque sei que a Umbanda tem me feito melhor. Como eu vou saber que só a Umbanda e não outra religião me faria à mesma coisa? Não sei. Não vou saber nunca porque tenho fé na Umbanda e nos seus ensinamentos. Mas desconfio. Embora isso seja assunto para uma outra vez...


P.S. - Agradeço muito a quem já entrou, leu ou comentou nosso blog. Vamos participar, sugerir e interagir. O espaço é nosso...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

UMA VELA ACESA...


Qualquer um que acredita que há em si próprio alguma coisa além da matéria palpável e visível é um espiritualista. Mas é claro, que nem todo espiritualista acredita ou aceita a existência e a comunicação com os espíritos. Aí está a diferença, identificada por Kardec do espiritualista para o Espírita. Embora, é claro, que os preceitos espíritas sejam muito mais antigos que a doutrina elaborada por Alan Kardec no século XIX. Afinal, podemos encontrá-los de modo discreto ou acintoso no Budismo, no Hinduísmo, no Judaísmo, no Cristianismo, nas antigas Tradições Xamânicas e em diversas religiões já desaparecidas ou reaparecidas como é o caso da Umbanda.

A idéia deste blog NÃO É debater religiões. Entende-se que o interessado pelo que se escreverá aqui, mais do que um espiritualista é, ou pretende ser, um Espírita. Toda religião contém dois aspectos: o RITO (exotérico, aberto) e o MITO (esotérico, fechado). O aspecto esotérico sempre foi ensinado para apenas um pequeno grupo de iniciados, discípulos preparados para entender as questões mais profundas da vida através dos ensinamentos daquela religião. O ensinamento exotérico sempre foi mostrado às massas através de parábolas, histórias, rituais litúrgicos etc. Lógico, que esse ensinamento muda de acordo com a época e a cultura de cada povo e região. Portanto, não é necessário se aprofundar muito em qualquer religião para perceber que os grandes mestres do passado sempre conheceram, com exatidão, os princípios espíritas.


Neste novo tempo em que vivemos, é preciso levar, cada vez mais, os ensinamentos que antes eram de poucos para muitos. Parodiando o hino da Umbanda, “refletir a luz divina, com todo seu esplendor” é a nossa missão. A missão de TODO espírita. Mais precisamente do espírita umbandista. E para começar a refletir a luz divina, nossos guias e orixás nos ensinam, em toda sessão de desenvolvimento ou de caridade, que muitas vezes não precisamos de nada mais do que UMA VELA ACESA. Mas para isso precisamos conhecer e discutir cada vez mais nossa religião. Uma religião tão antiga e há tão pouco tempo revivida, mas que vem crescendo de uma forma tão bonita e arrebatadora. Lógico, sempre respeitando e reconhecendo também as outras religiões, já que elas também encerram grandes verdades, ainda que de forma oculta ou metafórica.

“Avante filhos de Fé, como a nossa Lei não há!”