quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (3): CHINA, JAPÃO E O EXTREMO ORIENTE


A maioria dos pesquisadores e historiadores não relata o conceito de reencarnação no extremo oriente, ainda que, evidentemente eles tivessem desenvolvido o conceito de vida após a morte. Mas esta não é uma unanimidade. Existe quem defenda a existência da noção de reencarnação em épocas bastante remotas na China. Mesmo no Japão, onde o xintoísmo pode ser considerado a única religião exclusivamente japonesa – o budismo só teria chegado muito depois - o conceito de adoração a espíritos e o culto aos antepassados é muito forte.

O termo “xin-tao” quer dizer “caminho dos deuses”, e o xintoísmo baseia-se numa mitologia panteísta com inúmeras divindades que atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Na verdade tudo no universo é divino para essa concepção, sendo interligado e interdependente de forma que não só os seres vivos, mas o vento e a água, as pedras, a montanha, e todos os níveis invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte. É impossível não pensar no nosso culto aos Orixás quando vemos o Xintoísmo desta forma, mas um estudo aprofundado revela também uma mitologia muito rica e intrigante, com lendas de deuses encarnados e a constante busca humana por um caminho de luz. Segundo a crença xintô, existe o grande Kami – a natureza, a origem de tudo, o absoluto, o princípio fundamental – e dele saíram os diversos kami – vias de luz, divindades, espíritos sagrados. E claro, existem os seres humanos. Os seres humanos através de seus méritos próprios seriam capazes de incorporar o grande Kami e atingir a “via”, tornando assim o ser humano, a via e o Absoluto, um só. De qualquer forma, a pureza ou a luz é o que as pessoas devem almejar, mas esta só será encontrada quando em seu “estado puro”. A vida na impureza conduz a desgraça e ao sofrimento, atraí espíritos malignos e gera repúdia dos deuses. Somente a honra e a retidão dos atos trarão a purificação. Vale lembrar que no xintoísmo não existe o conceito católico da danação eterna, pois a vida continua no mundo extra-físico, como aconteceu com os antigos deuses, e haverá sempre uma chance de reabilitação.

Já na China antiga o conceito de reencarnação é mais aceito. Com autoria atribuída a Lao-Tse, no século 6 a.C., o texto Tao-Te-King, contém noções que já faziam parte da cultura chinesa há milhares de anos. Nele, consta que não é possível ignorar que o verdadeiro “eu” é imortal e que huen (alma) retornaria ao Tao – o princípio universal, a atividade criadora do universo, o Tudo, o equivalente para nós umbandistas a Zambi – após a morte. A tradução do texto é bastante controversa, desde o seu título que segundo estudiosos quer dizer: “Livro da Lei Universal e da Sua Ação”, ou “Livro do Ser Supremo e do Bem Supremo”, segundo outros. De qualquer forma, muitos afirmam também que huen (alma) permaneceria em sua existência individual, passando por diversas encarnações, precisando completar um ciclo de experiências ou de vidas antes de retornar ao Tao. De certo mesmo, é que os chineses acreditavam sim que existia vida após a morte e também que cada ser humano possuía duas almas: a alma “material” chamada de p’o e a alma “espiritual”, chamada de huen, que só surgia na pessoa após o seu nascimento. Um conceito muito semelhante ao do perispírito e espírito trazido por Kardec.

A seguir: A CRENÇA UNIVERSAL NA REENCARNAÇÃO (4): GRÉCIA.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom!

É evidente a consciência espiritualista da maioria dos povos orientais.
Povos tão diferentes quanto à sua cultura e tão semelhantes quanto às concepções de imortalidade e espiritualidade.
Por exemplo, duas citações:

No Taoísmo, quanto à imortalidade, segundo o Tao Te Ching, cito o poema número seis:

"Todos os seres vivos nascem e morrem, mas a vida é imortal, pois imperecível é o espírito da profundeza, como seio profundo da maternidade. Céus e terra radicam no seio da mãe. São a origem de todos os sers vivos, que espontâneamente brotam da vida."

Quanto à espiritualidade cito as palavras de um Samurai, Miyamoto Musashi, em sua busca pela iluminação através do Zen-Budismo:

"O Espírito do Samurai não se encontra aprisionado na redoma de seu peito, ele pertence a todas as coisas, está em todos os elementos..."

Podemos observar a nítida relação com os elementos da natureza e os aspectos da dualidade como indicadores de duas forças em equilíbrio. Fatores estes, encontrados e bem fundamentados na Umbanda.
Podemos dizer que existe uma forte semelhança nos conceitos e doutrina entre o Taoísmo e a Umbanda, com ligeiras diferenças na abordagem e logicamente nas palavras utilizadas para representar um mesmo conceito.
Coincidência?
Segundo a lógica científica; várias coincidências resultam numa evidência.

Marcelo disse...

Renan como sempre acrescentando muito aos meus posts!!! Obrigado irmão pelo belo e profundo complemento... em breve vc vai saber mais sobre o que disse, dentro dos fundamentos da Umbanda, e acredite... NÃO HÁ COINCIDÊNCIA!!!(rs)