quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SETEMBRO: MÊS DOS IBEJIS


No CEUXCO (Centro Espírita de Umbanda Xangô Caô do Oriente), casa espírita do ritual Banthu-Ameríndio, onde professo minhas crenças e cultuo meus Orixás, temos como tradição comemorar em setembro os Ibejis. Orixás-crianças, ou gêmeos, ou encantados, são de grande importância nos trabalhos espirituais, tanto que, embora não possam ser Chefes de Cabeça, não é raro serem “coroados” 2° ou 3° Orixás na Cabeça de algum médium da casa. Outro dia mesmo, em uma quarta-feira de consulta onde prestamos caridade a quem nos procura, Pai Joaquim do Congo (Lula) me deu uma bela lição enfatizando a importância da ajuda destas entidades nos trabalhos dos pretos-velhos. Segundo ele, trabalhar com Ibejis era ótimo, já que eles se esforçam muito em ajudar, resolvem o que têm para resolver rápido e ainda voltam logo querendo fazer mais! Pensando nisso, resolvi prestar uma “homenagem”, publicando aqui esta bonita ITAN (Pra quem não sabe, um conto ou parábola, utilizada para transmitir conhecimentos na África ancestral) que, para mim, representa bem o poder e o jeito de "trabalhar-brincando" desta linha de Orixás:

“Os Ibejis, os orixás gêmeos, viviam para se divertir.
Não é por acaso que eram filhos de Oxum e Xangô.
Viviam tocando uns pequenos tambores mágicos, que ganharam de presente de sua mãe adotiva, Iemanjá.
Por onde passavam as pessoas falavam: “Olhem os Ibejis brincando”!
Nessa mesma época, a Morte colocou armadilhas em todos os caminhos e começou a comer os humanos que caíam em suas arapucas.
Homens, mulheres, velhos ou crianças, ninguém escapava da voracidade de Icu, a Morte.
Icu pegava todos antes do seu tempo de morrer haver chegado.
O terror se alastrou entre os humanos.
Sacerdotes, bruxos, adivinhos, curandeiros, todos se juntaram para pôr um fim à obsessão de Icu.
Mas todos foram vencidos.
Os humanos continuavam morrendo antes do seu tempo.

Os Ibejis, então, armaram um plano para deter Icu.
Um deles foi pela trilha perigosa onde Icu armara sua mortal armadilha.
O outro irmão seguia escondido, o acompanhado à distância por dentro do mato.
O Ibeji que ia pela trilha ia tocando seu pequeno tambor.
Tocava com tanto gosto e maestria que Icu, a Morte ficou maravilhada, não quis que ele morresse e o avisou da armadilha.
Icu se pôs a dançar inebriadamente, enfeitiçada pelo som do tambor do menino.
Quando o irmão cansou de tanto tocar, o outro, que estava escondido no mato, trocou de lugar com o irmão, sem que Icu nada percebesse.
E assim um irmão substituía o outro e a música jamais cessava.
E Icu dançava sem fazer sequer uma pausa.
Icu, ainda que estivesse muito cansada, não conseguia parar de dançar.
E o tambor continuava soando seu ritmo irresistível.
Icu já estava esgotada e pediu ao menino que parasse a música por uns instantes, para que ela pudesse descansar.
Icu implorava, queria descansar um pouco.
Icu já não agüentava mais dançar seu tétrico bailado.
Os Ibejis então propuseram um pacto.
A música pararia, mas a Morte teria que jurar que retiraria todas as armadilhas.
Icu não tinha escolha e rendeu-se.
Os gêmeos venceram.
Foi assim que os Ibejis salvaram os homens e ganharam fama de poderosos, porque nenhum outro orixá conseguiu ganhar aquela peleja com Icu, a Morte.

Os Ibejis são poderosos, mas o que eles gostam mesmo é de brincar.”



Essa itan, para bom entendedor, contém várias informações relacionadas aos Ibejis. Mas vale lembrar mais uma coisa que muitos podem não saber: Embora Icú, a Morte, não seja cultuado em nosso ritual, ele faz parte do panteão dos Orixás africanos. Segundo a crença yorubá, Icú é quem vem buscar as pessoas que morrem para levá-las de volta ao ventre de Nanã. É Nanã quem cria os seres do AIYÉ (Terra). Ela modela com a lama que tira da terra, mas quando Nanã cria uma pessoa, outra tem que morrer para preencher o buraco da terra. O buraco é o próprio ventre de Nanã, por isso ela precisa dos mortos que Icu vai buscar para enchê-lo de novo e o ciclo recomeçar...


Para quem quer saber mais:
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi
As Nações Kêtu – Origens, ritos e crenças – Agenor Miranda Rocha

8 comentários:

Meu disse...

Marcelão,
Os Ibejis tb tinham outra grande importância na África. Como as tribos eram de caçadores ou coletores, alguns até agricultores, toda mão de obra era muito bem-vinda. Dessa forma, quando nasciam gêmeos numa tribo, era sempre uma grande alegria. Então, não era raro os pedidos para os Orixás-Crianças e gêmeos para que as mães tivessem em seu ventre mais de um bebê.
Interessante, não??
Grande abraço

Marcelo disse...

Com certeza, um comentário pertinente!!! Até mesmo no Brasil, no começo deste século na zona rural e interior do país, filhos sempre foram tratados como "patrimônio", afinal, para uma família de lavradores, qto mais "mão de obra" melhor! Mas mais do que isso, os Yorubás achavam que crianças gêmeas eram mágicas! Tinham grande poder. E isso trazia muita sorte para toda a família... um abraço e obrigado pela participação!!!

Shana disse...

Muito lindo o ensinamento do vovô, e concerteza muito sensível da sua parte irmão de fazer essa linda homenagem!!! Fiquei muito emocionada ao ler esse texto que vc postou, pois meu 2º orixá é criança, o presente mais lindo que Deus me deu!!! Beijos no coração irmão!!!

Marcelo disse...

Que bom que vc gostou, minha querida irmã!!! Com certeza, devemos sempre ficar atentos aos ensinamentos dos nossos velhos, já que eles, como dizem por aí, nunca dão um ponto sem nó!!! Beijos no seu coração tbm!!!

massa e cia disse...

Que lindo texto!É emocionante a forma dos ibejis resolverem problemas,que para nós simples mortais,parecem impossiveis.
Eles são maravilhosos.Eu que também tenho Orixá criança, posso afirmar que eles resolvem mesmo os problemas com musica e alegria.
E ainda tem quem diga que, ninguem engana a morte.

Marcelo disse...

Hahahaha pois é! Essa é mesmo uma bela itan, as fábulas e lendas contadas, na maioria das vezes metafóricamente, para transmitir uma tradição ou ensinamento! Devemos sempre tentar entender o verdadeiro significado de uma itan e ter em mente que o que ela nos conta não deve ser levado assim TÃO ao pé da letra. Na maioria das vezes é no sentido oculto que está o verdadeiro ensinamento....

Unknown disse...

Sou sabedora de que as crianças espirituais no Organismo Astral, são veículos do amor espiritual, procuram minimizar ou neutralizar os "focos" mórbidos irradiados no oeganismo físico e que se manifestam em doenças respiratórias, cardiológicas, imunológicas e relativas ao sistema nervoso simpático e parassimpático.
"São Mentores Espirituais Superiores de Zonas Astrais Superiores, que têm a mercê de serem veículos da Pureza Espiritual" (Fundamentos Herméticos de Umbanda).

Marcelo disse...

Linda contribuição, Lúcia!!! Sem dúvida uma bela observação. Só vem engrandecer nossa humilde itan. Obrigado!!!